Ela
quebrou o relógio para fazer o tempo parar.
Com
cada golpe da barra de ferro, ela se esforçava para prender no lugar o mundo
que se expandia claustrofóbico e a esmagava entre suas paredes espaçosas e
distantes. A cada pancada, ela trocava a solidão daquele universo lotado e
barulhento pela leveza do vazio. A cada mola, caco, a cada pecinha da
engrenagem que voava pelo ar e se espatifava contra a parede, o futuro ia se
apagando, dando lugar ao agora, tão real e confortador.
Era
um belo relógio, até. Uma relíquia de família que transcendia o sangue e os
clãs. Mas ele não lhe servia. Não era capaz de segurar seus ponteiros para
salvá-la do juízo que a aguardava, bem como a todos os seus pares. Então, ela o
fez em mil pedaços. Esperava, assim, dar um fim ao inevitável abismo em que a
forçavam a mergulhar de cabeça, sem qualquer aviso de quando seu suplício
terminaria. Com o relógio quebrado, o tempo não poderia passar.
Coitadinha...
Mal sabia ela que, com o relógio quebrado, o tempo não teria ninguém para impedi-lo
de correr.
Nenhum comentário:
Postar um comentário